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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Um resumo de Romanos por João Calvino

Estou em dúvida se valeria a pena gastar demasiado tempo com a exposição sobre o valor desta Epístola. Minha incerteza tem por base o simples receio de que, ao comentá-la, não venha a afetar ou a minimizar sua grandeza, e que minhas observações não venham simplesmente a obscurecê-la, em vez esclarecê-la. Deve-se também ao fato de que, em seu próprio início, a Epístola se introduz melhor e melhor se explica, em termos muito mais claros, do que qualquer comentário poderia descrever. Portanto, ser-me-á preferível que, sem delonga, me introduza no próprio tema. Tal fato nos comprovará, além de toda dúvida, que entre as muitas e notáveis virtudes, a Epístola possui uma, em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber: se porventura conseguirmos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da Escritura.

A Epístola toda é tão metódica, que o próprio início dela é artisticamente composto. A arte do escritor se faz notória em muitos pontos, o que notaremos à medida que avançarmos na leitura, mas é particularmente exibida na maneira pela qual o argumento principal é deduzido. Tendo começado com as provas de seu apostolado, ele se desvia deste assunto para enaltecer o evangelho. Visto, porém, que este enaltecimento [do evangelho] é inevitavelmente acompanhado de uma controvérsia sobre a fé, ele transita para esta, tomando o texto como sua diretriz. Daí ele entra no assunto principal de toda a Epístola, que consiste na justificação pela fé.

Na discussão sobre este tema – justificação pela fé – ele envolveu os capítulos um a cinco. O tema destes capítulos, portanto, pode ser assim formulado: O homem encontra sua justificação única e exclusivamente na misericórdia de Deus, em Cristo, ao ser ela oferecida no evangelho e recebida pela fé. Mas o homem se acha adormecido em seus pecados. E aí permanecerá satisfeito a enganar a si próprio com a falsa idéia de justiça, idéia essa que o faz acreditar não haver necessidade alguma de obter a justiça pela fé, a menos que já se ache despertado para a inutilidade de sua autoconfiança. Por outro lado, ele se acha tão intoxicado pelos deleites de sua concupiscência, e tão profundamente submerso em seu estado displicente, que dificilmente se despertará para ir em busca da justiça [divina], a menos que seja ferroado pelo temor do juízo divino. O apóstolo, pois, faz duas coisas, a saber: convence o homem de sua impiedade; e, em seguida, o desperta de sua indolência.

Em primeiro lugar, ele condena toda a humanidade, desde os tempos da criação do mundo, por sua ingratidão, visto que não há quem reconheça o Supremo Artífice na incomensurável excelência de suas obras. Aliás, quando os homens são compelidos a reconhecê-lo, não honram sua majestade com o devido respeito; ao contrário, em sua loucura, a profanam e a desonram. Ele acusa todos os homens desta impiedade, a qual é o mais detestável de todos os crimes. Para provar mais precisamente que toda a humanidade se desviou do Senhor, o apóstolo registra os atos pútridos e terrificantes que os homens, em toda parte, estão sujeitos a cometer. Este é um argumento conclusivo de que apostataram de Deus, pois tais atos ímpios são evidências da ira divina, e devem ser encontrados somente nos ímpios. Entretanto, os judeus e alguns gentios dissimularam sua impiedade interior com um manto de santidade externa, e de forma alguma pareceria que seriam condenados por tais feitos malignos, e portanto presumiam que se achavam isentos da condenação comum que paira sobre todos os homens. É por esta razão que o apóstolo dirige suas declarações contra essa dissimulada santidade. Visto que tal máscara de santidade dificilmente poderia ser retirada dos santarrões [sanctulis – santos inferiores], Paulo os convoca a comparecerem perante o tribunal de Deus, cujos olhos jamais deixam de ver até mesmo os desejos mais secretos dos homens.

Em seguida ele divide seu discurso, colocando os judeus e os gentios em separado diante do tribunal divino. No caso dos gentios, ele os priva do pretexto de ignorância, a qual defendem, porque sua consciência, diz ele, era para eles uma lei, e por isso estavam fartamente convictos de que eram culpados. No tocante aos judeus, veementemente os concita a aceitarem o mesmo fato pelo uso do qual se defendiam, ou, seja: as Escrituras. Uma vez provado que eram transgressores das Escrituras, não podiam mais justificar sua impiedade, pois os lábios divinos já haviam pronunciado a sentença contra eles. Ao mesmo tempo, o apóstolo se previne contra a objeção que bem poderiam lhe fazer, ou, seja: que o pacto divino, o qual era para eles a insígnia da santidade, teria sido violado caso nenhuma distinção fosse feita entre eles e os demais.

Ele mostra, primeiramente, que a posse do pacto por parte deles era mais excelente do que em referência aos demais, visto que apostataram dele em sua infidelidade. Contudo, para não detrair nada da fidelidade da promessa divina, ele também alega que o pacto lhes conferira algum privilégio, mas que este consistia na misericórdia de Deus e não nos próprios méritos deles. Portanto, no que concerne a suas qualificações particulares, permaneciam num só nível com os gentios. Ele então prova, a partir da autoridade da Escritura, que judeus e gentios são todos pecadores. Faz ainda neste ponto alguma referência ao uso da lei.

Ao despojar abertamente toda a humanidade de sua confiança em sua própria virtude, e de gloriar-se em sua própria justiça, bem como deixando-os sucumbidos diante do juízo divino, então retorna à sua proposição anterior, ou, seja: somos justificados pela fé. Ele explica o que fé significa e como podemos alcançar a justiça de Cristo mediante a mesma fé.

A isso ele adiciona, no final do capítulo três, uma excelente conclusão, a fim de reprimir o ímpeto da soberba humana, e obstrui sua ousadia de ir contra a graça de Deus. Para que os judeus não viessem restringir o imensurável favor divino à sua própria nação, ele o reivindica também para os gentios.

No capítulo quatro, para ratificar sua opinião, ele apresenta um exemplo claro e notável, portanto sem chance de réplica. Visto que Abraão é o pai dos fiéis, ele deve ser tido como padrão e tipo geral. Tendo provado, pois, que Abraão foi justificado pela fé, ele nos ensina que devemos prosseguir neste curso. Ao fazer um contraste entre os opositores, o apóstolo acrescenta que a justiça [procedente] das obras desaparece onde damos lugar à justiça [procedente] da fé. Confirma isso através do testemunho de Davi que, uma vez fazendo a bem-aventurança do homem depender da misericórdia divina, priva as obras humanas da virtude de fazer o homem feliz.

Então trata mais consistentemente do tema sobre o qual só tocara de leve, a saber: os judeus eram destituídos de razão em exaltar-se acima dos gentios, visto que esta bem-aventurança é comum a ambos. A Escritura testifica que Abraão alcançou a justificação quando ainda incircunciso. Ele aproveita a oportunidade para fazer algumas observações nesta passagem sobre o uso da circuncisão. Em seguida, acrescenta que a promessa da salvação depende tão-só da munificência divina. Se ela dependesse da lei, então não traria nenhuma paz às consciências humanas, onde ela deve ser solidamente estabelecida, nem tampouco seria ela jamais consolidada. Portanto, para que nossa salvação seja sólida e garantida, temos que abraçar e levar em conta unicamente a verdade de Deus, e nada em nós mesmos. Nisto urge que sigamos o exemplo de Abraão, que desviou sua atenção de si próprio e volveu-a tão-somente para o poder de Deus. No final do capítulo, ele compara duas coisas, as quais têm pontos semelhantes de comparação, a fim de fazer uma aplicação mais ampla do exemplo que citara.

O capítulo cinco realça o fruto e efeitos da justiça [procedente] da fé, mas é quase totalmente dedicado a expandir o que o apóstolo dissera, a fim de fazer seu enfoque ainda mais nítido. Ele argúi a maiori para mostrar o quanto nós, que fomos redimidos e reconciliados com Deus, devemos esperar de seu amor, o qual derramou com tal riqueza sobre os pecadores, que nos deu seu Unigênito e Amado Filho. Em seguida, ele traça uma comparação entre pecado e justiça gratuita, Cristo e Adão, morte e vida, lei e graça. Daqui se depreende que, por mais numerosos que nossos erros sejam, eles são destruídos pela infinita munificência divina.

No capítulo seis, ele volta a discutir a santificação que obtemos em Cristo. É deveras natural que nossa carne, tão logo tenha saboreado um pouquinho do conhecimento da graça, então se entrega com regalo a seus vícios e desejos, sem qualquer perturbação, como se já estivesse totalmente isenta de todos os perigos. Contra isso o apóstolo afirma que não podemos receber a justiça de Cristo sem, ao mesmo tempo, receber também sua santificação. Ele apresenta seu argumento com base no batismo, por meio do qual somos iniciados na participação de Cristo [per quem in Christi participationem initiamur]. No batismo somos sepultados com Cristo a fim de morrermos para nós mesmos e ressuscitarmos através de sua vida para novidade de vida. Segue-se, pois, que ninguém pode revestir-se da justiça de Cristo sem antes ser regenerado. Paulo usa este fato como a base de sua exortação à pureza e santidade de vida. Tal pureza e santidade devem ser demonstradas naqueles que renunciaram a impiedosa indulgência da carne, a qual busca em Cristo maior liberdade para o pecado; sim, aqueles que se transferiram do reino do pecado para o reino da justiça. Paulo também menciona sucintamente a anulação da lei, na qual o Novo Testamento resplandece, pois o Espírito Santo nos é prometido nele, juntamente com a remissão de pecados.

No capítulo sete, ele inicia uma discussão imparcial concernente à utilidade da lei. Ele mencionara este fato ao discutir previamente outro tema. Fomos libertados da lei, diz ele, porque ela, em si mesma, nada pode fazer senão nos condenar. Todavia, para que seu argumento não expusesse a lei à reprovação, ele insiste veementemente que ela está livre de toda e qualquer acusação. A culpa é toda nossa, explica ele, se a lei, que nos fora dada para a vida, provou ser veículo de morte. Ao mesmo tempo, explica como a lei faz o pecado avolumar-se. Deste tema, ele transita para a descrição da batalha que se deflagra entre o Espírito e a carne, experienciada pelos filhos de Deus enquanto se acham presos pelas cadeias de nosso corpo mortal. Os crentes levam consigo restos de cobiça, por meio dos quais são continuamente extraviados de sua obediência à lei.

O capítulo oito contém consolações que vêm em socorro da consciência dos crentes, a fim de que ela não seja estrangulada pelo terror ou a sucumbir-se, descobrindo que infringiu a lei, ou percebendo que sua obediência é por demais imperfeita, do quê já éramos acusados desde outrora. Mas, para que os ímpios não tenham, por esse motivo, razão para enfatuar-se, ele, antes de tudo, afirma que este benefício pertence unicamente aos regenerados, em quem o Espírito de Deus vive e a quem ele enriquece. Ele, pois, explica duas verdades. Em primeiro lugar, aqueles que se acham enxertados em Cristo, nosso Senhor, por meio de seu Espírito, estão fora de perigo ou da probabilidade de sofrer condenação, ainda que sejam responsabilizados por seus pecados [atuais]. Em segundo lugar, se os que permanecem na carne estão destituídos da santificação do Espírito, nenhum deles tem qualquer participação nesta grande bênção. Em seguida, ele explica quão imensurável é a segurança de nossa fé, visto que ela, pelo próprio testemunho do Espírito de Deus, afasta todas nossas dúvidas e temores. Ele ainda mostra, à guisa de antecipar objeções, que nossa segurança de vida eterna não pode ser interrompida nem perturbada pelas ansiedades desta vida atual, às quais estamos sujeitos em nossa vida mortal. Ao contrário disso, nossa salvação é promovida por tais tribulações, e, em comparação com a excelência de nossa salvação, todos nossos atuais sofrimentos são reputados como nada. Ele afirma isso com base no exemplo de Cristo, ou, seja: visto ser ele o Primogênito e Cabeça da família de Deus, é a imagem à qual devemos nos conformar. Visto, pois, que nossa salvação está garantida, ele conclui com uma nota de esplêndido louvor, na qual ele com exultação triunfa sobre o poder e estratagema de Satanás.

A maioria dos homens ficava terrivelmente conturbada ao olhar para os judeus – que eram os principais guardiães e herdeiros do pacto – rejeitarem a Cristo, pois este fato lhes provava, ou que o pacto era removido da semente de Abraão, que desdenhava seu cumprimento, ou que Cristo não era o Redentor prometido, visto que ele não fizera melhor provisão para o povo de Israel.

Paulo, portanto, começa a responder esta objeção no início do capítulo nove. Ele inicia falando do amor divino para com o próprio povo do pacto, para que não ficasse a impressão de que falava com malícia. Ao mesmo tempo, ele faz uma graciosa referência àquelas distinções pelas quais os judeus exceliam outras nações, e passa paulatinamente a sua tarefa de remover o escândalo que emana da cegueira de Israel. Ele divide os filhos de Abraão em duas estirpes, com o fim de mostrar que nem todos aqueles que eram seus descendentes físicos devem ser considerados sua progênie e participantes na graça do pacto. Ao contrário disso, mesmo os estrangeiros se convertem em seus filhos uma vez introduzidos no pacto, pela fé. Há um exemplo desta verdade no caso de Jacó e Esaú. Paulo, pois, nos remete, aqui, à eleição divina, a qual devemos considerar como a fonte de toda esta questão. Visto que nossa eleição repousa tão-só na misericórdia divina, debalde buscamos sua causa na dignidade humana. Não obstante, por outro lado temos a rejeição divina. Ainda que a justiça desta rejeição esteja fora de qualquer dúvida, não há nenhuma outra causa para ela além da vontade de Deus. Chegando ao final do capítulo, ele mostra que tanto a vocação dos gentios quanto a rejeição dos judeus foram testemunhadas pelos profetas.

No capítulo dez, ele começa novamente testificando de seu amor para com os judeus, e declara que sua infundada confiança em suas obras era a causa de sua destruição. Ele os priva de fazer uso da lei como escusa, dizendo que a lei também nos guia à justiça [procedente] da fé. Esta justiça, acrescenta ele, é oferecida, sem distinção, a todas as nações mediante a munificência divina, mas só é aceita por aqueles a quem o Senhor ilumina com a graça especial. Ainda que mais gentios que judeus tenham obtido esta bênção, ele mostra que isso também foi profetizado por Moisés e Isaías: o primeiro profetizou sobre a vocação dos gentios; e o último, sobre o endurecimento dos judeus.

Restava, contudo, a pergunta se o pacto divino fizera alguma diferença entre a progênie de Abraão e as demais nações. Em busca de resposta, Paulo primeiramente nos lembra que a obra de Deus não deve ser confinada ao que os olhos podem ver, pois a eleição às vezes vai além de nossa compreensão. Elias estava inicialmente equivocado quando concluiu que a religião havia perecido em Israel, porquanto havia ainda sete mil vivos. O apóstolo também nos convida a não nos afligirmos ante o vasto número de incrédulos, para quem o evangelho não passa de algo repugnante. Finalmente, ele assevera que o pacto persiste mesmo nos descendentes físicos de Abraão, mas só é eficaz naqueles a quem o Senhor predestinou por sua eleição soberana. Ele, pois, volta em direção dos gentios e os adverte a não se esquecerem de refrear sua vanglória em relação a sua adoção. Eles não podem excluir os judeus como se houvessem sido rejeitados peremptoriamente, visto que eles só são aceitos pelo Senhor pelo prisma da graça, a qual deve ser-lhes causa de humildade. O pacto divino não foi totalmente apagado da progênie de Abraão, pois os judeus são, de certo modo, provocados à emulação pela fé dos gentios, para que Deus pudesse atrair a si todo o Israel.

Os três capítulos que se seguem são de caráter hortativo, porém cada um é distinto do outro. O capítulo doze contém normas gerais para a vida cristã. O capítulo treze trata, em sua maior parte, da autoridade dos magistrados. É uma provável pressuposição que houvesse algumas pessoas irrequietas que imaginavam que não pode haver liberdade cristã sem que o poder civil seja antes destruído. Para evitar a aparência de estar impondo deveres sobre a Igreja além daqueles atinentes ao amor, Paulo mostra que esta obediência também é uma parte do amor. Em seguida ele adiciona aqueles preceitos que regulamentam nossa vida, o que já havia mencionado.

No capítulo quatorze, ele dirige uma exortação que era particularmente necessária para aquele período. Houve alguns, cuja obstinada superstição os levou a insistir na observância dos ritos mosaicos, porque não suportavam vê-los sendo negligenciados sem que se sentissem ainda mais fortemente ofendidos. Em contrapartida, aqueles que tinham consciência de sua anulação, para destruir tal superstição, davam a entender, deliberadamente, que não tinham por eles nenhuma consideração. Ambos os lados ofendiam com seus excessos. Os supersticiosos desprezavam os outros como sendo zombadores da lei divina; enquanto que os últimos injuriosamente motejavam da ingenuidade daqueles. O apóstolo, pois, recomenda a ambos aquela discrição judiciosa, e convida os primeiros a refrear seu desprezo e exagero, e os últimos a evitar todo gênero de escândalo. Ao mesmo tempo, ele prescreve a melhor forma de se exercer a liberdade cristã, a qual é mantida dentro dos limites do amor e da edificação. Aos fracos, ele dá um bom conselho, proibindo-os de fazer alguma coisa que ofenda sua própria consciência.

O capítulo quinze começa com uma repetição de seu argumento geral como uma conclusão de todo seu tema, ou, seja: os fortes devem usar sua força na confirmação dos fracos. Visto que os judeus e os gentios viviam em contínua controvérsia sobre as cerimônias mosaicas, ele resolve toda a rivalidade entre eles, removendo a causa de seu orgulho. Mostra que a salvação de ambos repousa tão-somente na misericórdia divina. É nela que devem pôr sua confiança, e devem pôr de lado todo e qualquer pensamento em sua própria exaltação, pois é pela misericórdia divina que são mantidos unidos na esperança de uma única herança e podem abraçar-se com toda cordialidade.

Finalmente, desejando desviar-se com o propósito de enaltecer seu próprio apostolado, o qual assegurava não pouca autoridade a sua doutrina, ele aproveita a ocasião para defender-se e reprovar a suspeita de haver assumido o ofício de mestre entre eles com demasiada confiança. Ele ainda lhes oferece algumas bases para a esperança de sua visita entre eles, ainda que, como dissera no início da Epístola, até agora buscara e tentara em vão fazer isso. Ele explica por que fora até então impedido de visitá-los, ou seja: as igrejas da Macedônia e da Acaia o incumbiram da tarefa de levar a Jerusalém os donativos que coletaram com o intuito de aliviar as necessidades dos crentes que viviam naquela cidade.

O capítulo dezesseis é quase inteiramente dedicado a saudações, embora haja alguns admiráveis preceitos aqui e ali. Conclui-se com uma notável oração.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Salvação é do Yáohuh Ul (YAOHÚNAH - Jonas 2.9)

A salvação é obra de Yaohuh Ul. É somente ele que vivifica a alma “morta em delitos e pecados”, e é ele também que mantém a alma em sua vida espiritual.

Ele é tanto “Alfa e Ômega”. “A salvação é do Yáohuh Ul”. Se eu estou em oração, Yáohuh Ul me faz orar; se eu tenho graças, elas são dons de Yáohuh Ul para mim, se eu mantenho uma vida coerente, é porque ele me sustenta com sua mão.

Eu não faço nada para a minha própria preservação, exceto o que Yáohuh Ul fez primeiro em mim. Qualquer bem que eu tenha, vem somente do Yáohuh Ul. Se eu peco, isto procede de mim, mas quando ajo corretamente, isto vem de Yáohuh Ul, total e completamente.

Se eu tenho repelido um inimigo espiritual, é a força do Yáohuh Ull que sustenta meu braço. Eu vivo diante dos homens uma vida consagrada? Não sou eu, é Mehushkháy {(o Merrushirrái )Mudado para o Messias ou o Ungido} que vive em mim.

Estou santificado? Eu não purifico a mim mesmo; é o Rúkha Ulhím (Rúrra) {Espírito Santo} de Yáohuh Ul que me santifica. Estou desmamado do mundo? Eu sou desmamado por Yáohuh Ul com aflições santificadas para o meu bem.

Eu cresço em conhecimento? O grande Instrutor me ensina. Todas as minhas joias foram formadas pela arte celeste. Acho em Yáohuh Ul tudo o que eu necessito, mas acho em mim mesmo nada além de pecado e miséria. “Somente ele é a minha rocha e a minha salvação.”

Eu me alimento da Palavra? Essa Palavra não seria comida para mim a menos que o Yáohuh Ul a fizesse alimento para a minha alma, e me ajudasse a alimentar-me dela. Eu vivo do maná que cai do céu? O que é o maná, senão o próprio Yaohúshua Mehushkháy encarnado, cujo corpo e cujo sangue eu como e bebo? Estou continuamente recebendo aumento de forças renovadas? Onde eu reúno minhas forças?
O meu socorro vem das colinas do céu: sem Yaohúshua nada posso fazer. Como o ramo não pode dar fruto se não permanecer na videira, não mais posso eu, se não permanecer nele. O que Jonas aprendeu no grande abismo, deixe-me aprender em oração no meu quarto: “A salvação é do Yáohuh Ul.”

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Marcelo Costa.

Discutir com Deus

Ah! Se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo seu próximo! – Jó 16:21.

É estonteante nossa maneira de pensar que estamos certos, quanto àquilo que venha nos favorecer, como articulamos bem as palavras em nossa defesa. Sempre, quando atravessamos alguma adversidade ficamos afoitos, chateados, descontentes é até exigimos de Deus respostas, porque muitas vezes nos sentimos o anjinho e fazemos de Deus o justiceiro, queremos então de qualquer maneira que Deus mude a situação, nos desesperamos, lamentamos e até colocamos a culpa Nele porque determinada coisa não deu certo.

Então, vamos analisar: Aqueles que possuem filhos usem a coerência.

Se vocês criar algo, construir uma bela arquitetura, deixar tudo em poder de seus filhos, todos os vossos bens confiar nas mãos deles, mesmo em vida os constituírem sucessores de toda a fortuna, outorgar para com eles, o domínio de tudo que vocês projetaram, delegando-lhes poder e autoridade, ordenar que os cultivem e preserve-o. Autorizando usufruir de tudo, instruindo-lhes quanto o que é correto e errado, alertando os quanto ao mal se saírem da projeção criada.

E, seus filhos, mesmo sabendo que existiu na trajetória de vocês, alguém que vocês haviam cuidado e protegido, que havia lhe dado poder, honra e autoridade, fazendo dessa pessoa, muito rica, colocando a com seu representante, e que, um dia essa pessoa atentou contra a vida de vocês, queria usurpar aquilo que era de vocês, articulou, manobrou, mentiu, inventou, tudo para destituir vocês, fez do que pode para que vocês deixassem de serem os verdadeiros donos dos vossos pertences. Daí, na ausência de vocês, seus filhos resolveram ouvir um mensageiro daquele opositor. Depois de ouvirem aqueles conselhos, eles, descobriram que foram lesados. No entanto, vocês já os haviam alertado, eles desobedeceram as vossas ordens colocando em perigo novamente não só os bens mais também a vida de todos, me digam então, vocês pais, como agiriam?

Pois, foi exatamente isto que aconteceu, E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. Gênesis 2:15, Deus nos deu o direito e autoridade sobre tudo que existente na face da terra, no entanto deixamos o nosso coração sucumbir diante dos argumentos de inimigo, Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?

Gênesis 3:1, Deus como pai teve que nos trazer a advertência, O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. Gênesis 3:23, porque então culpamos a Deus por nossos fracassos e derrota? Porque choramingamos dizendo que Ele nos abandonou? Porque falamos que a dor que estamos passando é porque Ele quer? Acaso foi isso que Ele fez para o homem? Não foram os nossos erros que circunstanciou tais aflições?

Alguém pode dizer, mais a situação é diferente. Não! Não é não, para nós hoje ainda é pior, sabe por quê? No inicio Adão e Eva, não tinha nenhuma lição já vivida para prevenir-se, ao contrario nosso, vivemos cotidianamente com exemplos bons e ruins, caminho certo e caminho errado, as escolha são nossa, certamente, se ouvíssemos os conselhos de Deus não passaríamos por tantas angustias, os nossos erros contribiram para a existência do mal em nossas vidas, Se seguíssemos os ensinamentos do Senhor teríamos vida abundante Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha.

Êxodo 19:5, Tudo que existe na terra foi criado por Deus para benfeitoria do ser humano, ou seja, para aqueles que obedecem a sua voz, então, se tão somente estamos atribulados e não temos aquilo que sonhamos a culpa é nossa. Já disse Jó; Eis que nisso não tens razão; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem. Jó 33:12, somos responsáveis pelas situações ruins que surgem em nossas vidas.

Deus age como os verdadeiros pais que não fazem tudo que os filhos desejam, presenteia aquele que faz jus. Como, pois queremos forçar Deus fazer a nossas vontade, se estivermos longe da sua presença? Se estivermos a seguir ao nosso bel prazer. Se agirmos conforme nosso querer. Cada um de nós, passamos por problemas, todos, vivemos situação diferente que requerer forças além das nossas forças, pois estamos arcando com nossos feitos.

Talvez você possa dizer-me, eu não fiz nada de errado, será mesmo? Que o Espirito Santo agora te mostre se você fez ou não, porque se você não fez nada para está nesta situação, tenha certeza que ainda hoje, a Glória de Deus vai manifestar na tua vida. Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. João 9:3, mas se você tem consciência dos seus erros, então seja sincero, aproxime se de Deus e conte para Ele.

Ele já sabe de tudo, Ele apenas quer saber se você tem desejo de mudar. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; João 4:17. Ao invés de ficarmos reclamando vamos buscar a face do Senhor, Ele é o único que pode mudar toda a situação, Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argüi assim a Deus, responda por isso. Jó 40:2, o que podemos falar para nos justificar diante de Deus?
Todos os nossos argumentos serão inúteis, perda de tempo, não podemos contender com Deus, Ele é Deus, e nos, apenas palhas secas que podem ser movidos por ventos, então busque ao Senhor todo poderoso, se derrame diante Dele, Certamente Ele olhara para você! Se tu de madrugada buscares a Deus, e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia; Jó 8:5.

Fonte: Gospel+

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A Participação da Maçonaria na Inconfidência Mineira: Fato ou boato?


*Ir.'. Waldir Ferraz de Camargo

A história é continuamente reescrita e novas interpretações aparecem nos mostrando outras respostas que correspondam melhor às necessidades do tempo atual. Particularmente sobre a Inconfidência Mineira (1789), muito se tem debatido e questões sobre a participação da Maçonaria no levante, bem como o papel de Tiradentes, tem motivado historiadores a lançar novos olhares sobre o episó- dio para desvendar sua real história. Fato é que em boa parte do século XIX a Inconfidência Mineira não teve destaque na historiografia brasileira e somente a partir de 1870 que o sentimento nacionalista ressurge na busca de uma identidade republicana que pudesse particularizá-la. Com o golpe militar que inaugurou a República em 1889, essa necessidade foi reforçada, pois o regime instaurado de cima para baixo estava longe de representar a satisfação popular. Era preciso legitimá-lo perante o povo como um desejo histórico presente desde os tempos passados, criando uma tradição republicana para a nação por meio de heróis que já tivessem lutado pela causa. Nesse sentido, a Inconfidência e Tiradentes assumiram com propriedade o papel de precursores da República. Aescolha de Tiradentes como herói nacional não é difícil de ser explicada.
Obras literárias que ressaltavam o fervor religioso do personagem nos últimos momentos de sua vida foram escritas reforçando a ideia do fracasso do movimento em consequência de uma traição, que teve o papel de Judas desempenhado pelo coronel Joaquim Silvério dos Reis. Além do mais, ele era de Minas, estado que tinha uma força republicana forte e um polo comercial pujante. Os artistas e pintores da época deram o toque final e a imagem de Tiradentes semelhante à de Cristo foi dissipada à população. Era o que bastava. Transformaram-no em herói nacional cuja figura agradava tanto a elite quanto ao povo. Contudo, não foi apenas o governo que se utilizou da influência do movimento e de seu herói. Também a Maçonaria se apropriou da figura do mártir da independência como seu expoente maior, ocorrendo um crescimento acelerado de Lojas batizadas como Tiradentes.
A primeira Loja Maçônica fundada no Brasil que se tem registro deu-se em 1801, portanto 12 anos após a Inconfidência, fato que tem causado muitas controvérsias nas mais variadas narrativas. O relato que inaugurou a ligação da Maçonaria com a Inconfidência Mineira deu-se ao historiador, jornalista e professor Joaquim Felício dos Santos, que curiosamente não era maçon. Em sua obra “Memórias do distrito diamantino da comarca do Serro Frio”, escrita em 1868, ele afirma que a Conjuração Mineira foi um movimento estreitamente ligado à Ordem dos Pedreiros Livres. Ainda que não existissem Lojas em funcionamento, proibidas na época, grande parte de seus participantes, inclusive o próprio Tiradentes, eram maçons que se reuniam disfarçadamente nas residências de Claudio Manuel da Costa, Thomaz Antônio Gonzaga, José Alvares Maciel, Padre Rolim e de outros homens cultos da época para participarem de arcádias literárias, saraus e outras atividades culturais.


Já naquela época existia o jeitinho brasileiro de se resolver as coisas. A historiografia acadêmica está longe de um consenso acerca da participação ou não da Maçonaria na Inconfidência Mineira, cujas hipóteses vão desde a ação efetiva até a negação total. Finalmente, no meio termo entre essas duas correntes encontra-se o pesquisador Márcio Jardim, para quem a atuação maçônica foi importante, porém secundária, sendo seu papel apenas o de aglutinar pessoas e ideias, responsável maior na articulação da intelectualidade dos poetas com a bravura de um alferes. Controvérsias à parte, é imperioso reconhecer que a Inconfidência Mineira foi um movimento com a doutrina ideológica importada da Revolução Francesa, amplamente planejada no interior das Lojas Maçô- nicas daquele país, assumida pelos revoltosos brasileiros e que resultaram no mais importante ato libertador da nação. E Tiradentes é, sem sombra de dúvidas, o maior herói brasileiro conhecido publicamente por dar sua vida pela causa da Igualdade, Fraternidade e Liberdade de sua pátria.

*O autor é formado em História, funcionário público estadual e membro da Loja Maçônica Deus, Pátria e Família, de Bauru FONTE: JCNET

terça-feira, 12 de maio de 2015

Livros Proibidos da Bíblia: Enoque



O ano era 325 d. C. e a cidade era Nicéia de Bitínia onde, liderados por Constantino, os cristãos realizavam uma reunião para acertar os detalhes da "oficialização" do cristianismo. Conhecido como o "Concílio de Nicéia" essa reunião definiu datas, organizou festas, discutiu legalidades e, entre outras coisas, definiu o cânone bíblico, ou quais livros entrariam naquilo que hoje chamamos de Bíblia. Alguns dizem que foi mais por questões políticas do que teológicas ou doutrinárias mas, os livros "divinamente inspirados" entraram para o cânone e os "apócrifos", sem inspiração divina ou, ainda pior, redigidos pelo demônio em pessoa, foram descartados, alguns destruídos e outros trancados nos porões do Vaticano por séculos.
Neste conglomerado estavam algumas histórias capazes de provocar calafrios no cristão mais fervoroso, evangelhos diversos, segundo Pedro, Maria Madalena, Thiago e o medonho evangelho segundo Pseudo-Tomé, além de livros que contiam " informação demais" para os fiéis, que foram deixados no "calabouço" para não deixarem margem de dúvida sobre a fé que se organizava.
Um desses livros com informações "sobrando" é o de Enoque.
Mas quem é Enoque?
Enoque segundo a bíblia é bisavô de Noé, esse mesmo que o leitor deve estar pensando, o do dilúvio. Enoque era pai de Matusalém, avô de Lameque( filho de Matusalém) e bisavô de Noé ( filho de Lameque); a bíblia não dá detalhes sobre Enoque, só diz que ele andou com Deus e não foi mais visto, por que Deus o arrebatou aos céus.
Cristãos etíopes aceitam e mantêm o livro de Enoque em sua bíblia, e os manuscritos encontrados na cidade Qumram, na gruta 7, corroboram e completam aqueles dos etíopes. No entanto para o Vaticano os livros e manuscritos não possuíam valor "divino", com certeza uma desculpa para as histórias embaraçosas encontradas nos relatos do bisavô do messias diluviano.



A começar pela contradição da história mais importante, depois da crucificação, para o cristianismo moderno: a invenção de Lúcifer.
Antes do século XIII a figura do diabo não existia( basta o amigo leitor procurar o post: Histórias estranhas da bíblia: o diabo) e foi criado para assustar os cristãos medievais, cheios de dinheiro é bom lembrar.
Mas antes do século XIII o problema não era o diabo em si, mas a cabeluda história dos "filhos de Deus" fazendo sexo com mulheres. Isso amigo leitor, os filhos de Deus, entenda-se ANJOS, transando com as mulheres e gerando filhos com elas? No mínimo embaraçoso.
Gênesis cap 5
Além disso Enoque não fala de um anjo luminoso que era praticamente um "vice Deus", segundo uma hierarquia celeste, que foi tomado pela inveja e foi expulso por Deus do céu (?).  Em lugar disso Enoque relata a história de Azazyel e Samyaza. Dois "capitães" do "exército" divino(?) que ao verem as mulheres descem e as tomam como esposas, trazendo consigo seus respectivos batalhões.
Agora faço ao leitor algumas perguntas:
Anjos fazendo sexo?
Exército, batalhão, capitães?
Dois insurgentes e não um?
Creio que ia ser mesmo muito trabalho explicar tudo isso, foi mais fácil inventar o diabo e banir o livro de Enoque.
O relato diz ainda que Deus não permitiu o retorno de seus capitães e seus comandados ao céu e condenou-os a ficarem aqui na terra, que seus filhos semi-anjos destruíam cidades inteiras apenas com os braços, que devoravam plantações em poucas horas, que eram bestas perigosas e que teria sido este o motivo do dilúvio. Que contradiz o Genesis mosaico onde o motivo da destruição aquática é a maldade dos homens. Note também, amigo leitor, que o velho machismo está presente aqui, as mulheres eram a culpa da descida dos anjos e seus filhos eram a razão do dilúvio, típico da mentalidade da época.


De fato outra parte do livro de Enoque que contradiz o Gênesis de Moisés é sobre quem trouxe conhecimentos aos homens. 
Moisés diz que foram os descendentes de Caim: Jabal, Jubal e Tubal-Caim que desenvolveram a arte, a guera, a cultura, a criação de gado, etc;  utilizando-se da alegoria de que o pecado de Adão separou o homem de Deus e, consequentemente, este teria que aprender coisas para sobreviver mas, que cada novo aprendizado afastaria ainda mais a criatura do criador.
Já Enoque diz quem foram os anjos e onde eles lhe deram estes conhecimentos que deveriam ser anotados, metodicamente, em seu livro e, posteriormente ensinados aos homens. Não como um fruto do pecado, mas como um presente para melhorar a vida humana, habilidades necessárias a sua sobrevivência.
Com toda certeza não seria do agrado da recém formada cristandade utilizar-se de livros contraditórios entre si para doutrinar sua igreja emergente.


Assim como vários outros autores Enoque foi condenado ao esquecimento por vários séculos, proibido e visto como um perigo aos desígnios da fé que surgia.
Hoje não é incomum ver cristãos falando da inutilidade dos textos apócrifos, que assim foram taxados por pessoas com medo de seu poder, e de o quanto eles são heréticos.
Esses cristãos não se atém ao fato de que foi sua própria igreja, em um ato puramente político, que definiu o que era ou não "santo" para fazer parte da "palavra de Deus"; fazendo escolhas apoiadas em quem era mais influente ou não na ocasião do concílio. 
Ora... parece muito mais politicagem do que " divinismo". Os fiéis aceitam, defendem e até travam batalhas na afirmação de que a bíblia é, invariavelmente, a palavra viva que saiu dos lábios de Deus. Mas se procurarem na história do cristianismo vão perceber que Deus, no caso de sua (im)provável existência, deve ter acompanhado, nauseado, as escolhas e coisas feitas em seu nome.

No fim todos esses livros são histórias fantasiosas, delírios pessoais ou coletivos, provas (fictícias) do poder, justiça e vontade divina. Em um oceano, ainda indecifrável, chamado cérebro humano, capaz de feitos extraordinários que não podemos compreender. Que atravessaram mais de seis milênios influenciando a vida e morte de bilhões de pessoas e, mesmo hoje, com nossa tecnologia e conhecimento, segue no imaginário coletivo, com uma força tão poderosa que ainda sobrepuja as emoções humanas e, mesmo sem provas de sua existência, está presente em seus sentimentos, governando seu dia a dia, trazendo conforto a suas vidas e mantendo a ordem do ciclo de predação e destruição instituído por ninguém menos que nós mesmos.

A PEDRA BRUTA E SUAS APLICAÇÕES FILOSÓFICAS


PREFÁCIO
A pedra bruta é a pedra de cantaria, que é uma pedra própria para ser esquadrejada e usada nas construções, já que só a pedra esquadrejada cúbica, ou em forma de paralelepípedo - é que encaixa perfeitamente nas construções, sem deixar vãos. Os homens que nela trabalhavam eram os canteiros, ou esquadrejadores da pedra, os quais a transformavam na pedra cúbica. Daí os dos símbolos em Loja, já que praticamente tudo o que fazemos, hoje, tem sua origem nas organizações dos franco-maçons de ofício, ou operativos, como a dos canteiros. (José Castellani)
INTRODUÇÃO
Para os iniciados nos Augustos Mistérios da Maçonaria, a apresentação do seu primeiro trabalho é um passo de valor imensurável, por tratar da importância de pesquisar, comparar obras de mais de um autor, tirar conclusões próprias, externar o que pôde aprender e o que progrediu com os ensinamentos prestados pelos irmãos de Loja.
O tema escolhido é palpitante haja vista sua aplicabilidade tanto no meio profano como na maçonaria simbólica, de vez que podemos verificar desde as mais antigas civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso como filosófico. Não obstante a maçonaria especulativa muito sabiamente aproveita esses conceitos retirados das pedras a expressão marcante e lança ensinamentos para todos seus membros, desde sua iniciação.
O objetivo principal desse trabalho é apresentar a simbologia das pedras presentes em várias civilizações e em diferentes épocas e sua aplicação na formação dos maçons-aceitos. DESENVOLVIMENTO
A história da humanidade desde seu inicio tem um vínculo forte com as pedras. O homem das cavernas descobriu-as como grandes aliadas. A pedra foi utilizada para vários fins seja como arma ou outra ferramenta qualquer que facilitara a vida de nossos ancestrais.
O tempo foi passando e o homem evoluía cada vez mais, seus aprendizados foram aprofundando-se, até que adquiriu o domínio de várias técnicas, as quais eram vitais para sua sobrevivência. Essas técnicas deram origem a ciência, produto do intelecto humano, como somatório dos conhecimentos adquiridos. Ainda em sua primitividade o homem, por seus caracteres que diferem dos outros animais (corpo, alma e mente), sentia a necessidade de comunicar com o ser superior, pois percebia em sua espiritualidade que foi criado, logo, desse sentimento nasceu a religião que era manifestada de forma muito variada conforme cada região onde habitava.
As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas eram erigidas para representar seus deuses. E vemos que de simples pedras não-talhadas, gradativamente os homens foram utilizando pilares lavrados e depois para colunas talhadas esculturalmente segundo a semelhança de animais ou homens destinados a tornarem objetos de reverência e culto como representação de deuses, que por sua solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade. O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões da terra e entre quase todos os povos bárbaros. A Bíblia Cristã, desde o livro do Gênese até o Apocalipse, faz alusões às pedras, vejam alguns exemplos:
Em Gênese, capítulo vinte e oito, versículo dezoito, lemos: “No dia seguinte pela manhã, tomou Jacó A PEDRA sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em Estela derramando óleo sobre ela;
As tábuas onde foram escritos os dez mandamentos eram de PEDRA (Êxodo, capítulo trinta, versículo dezoito);
Há referências bem conhecidas tanto no Velho com no Novo Testamento sobre as pedras-símbolos. No Livro dos Salmos, capítulo cento e dezoito, lemos: “ A PEDRA que os construtores rejeitaram, tornou-se PEDRA ANGULAR”. Considera-se isso uma profecia dirigida a Jesus, como o Cristo, que foi rejeitado pelos judeus, mas tornou-se a PEDRA fundamental da igreja.
Jesus cita essas palavras em Mateus, capítulo vinte e um, acrescentando: “Aquele que tropeçar nesta PEDRA, far-se-á em pedaços, e aquele sobre quem cair será esmagado”.
Pedro denomina Jesus em sua segunda epístola, capítulo quatro, como PEDRA PRECIOSA;
Ao passo que Pedro foi chamado CEPHAS, quer dizer PEDRA, pelo próprio Jesus em Mateus, capítulo vinte e seis, versículo dezoito.
Já no judaísmo se vê a velha lenda sobre o maravilhoso depósito de PEDRA DE FUNDAÇÃO, É encontrada no livro Talmúdio-yoma, que afirma, ela tinha sobre si o nome sagrado de DEUS gravado na síntese da sigla G.A.O.T.U. Alguns rabinos hebraicos dos tempos antigos adeptos à doutrina metempsicose acreditavam que uma alma humana podia após a morte não só renascer num corpo humano, mas também, por culpa de seus pecados, num corpo de animal e até mesmo aprisionado numa PEDRA. No fólio hebraico número cento e cinqüenta e três, podemos ler: “A alma de um caluniador pode ser forçada a habitar uma PEDRA SILENCIOSA. Os antigos gregos costumavam erguer colunas de pedras consagradas diante de seus templos e ginásios e até mesmo as habitações de seus cidadãos insignes. No mundo árabe em Meca (cidade de peregrinação islâmica), acha-se a PEDRA mais notável do mundo, é uma PEDRA PRETA, que está preservada na “kaaba” ou casa cúbica que fica no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta PEDRA PRETA tem sete polegadas de comprimento
aproximadamente, e é oval, segundo diz, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 DC, foi recomposta com cimento e encerrada numa cinta de prata. Está embutida na parede do ângulo nordeste da kaaba a uma altura que permite que os devotos a beijem em ato de adoração.
Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos da correlação homem e pedra, presente na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana. Assim também para a maçonaria as pedras têm um valor imensurável, posto que a própria origem desta instituição tenha muito haver com elas, uma vez que é herdeira o conhecimento de várias associações de construtores, principalmente daquelas manifestada durante a Idade Média. A representação simbólica das pedras está intimamente ligada com a vida de um maçom, desde sua iniciação, seu primeiro trabalho realizado à frente do irmão primeiro vigilante, onde ele ainda não percebe a riqueza existente nesse gesto.
A PEDRA BRUTA é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita no espírito do maçom. Desbastar esta PEDRA BRUTA significa que esse trabalho simbólico deve-se dedicar o maçom para chegar a ser o obreiro que domina a boa arte de construir. Na realização desse trabalho o iniciado é ao mesmo tempo obreiro, matéria-prima e instrumento. Ele mesmo é a PEDRA BRUTA, que representa seu atual estado de imperfeito desenvolvimento, que deve converter-se em forma de perfeição interior.
Como a perfeição é infinita e seu absoluto é inacessível, o que nos resta fazer é tão somente aproximar da perfeição ideal, por etapas de progresso, desenvolvendo-as através de sucessivos graus de perfeição relativa. O próprio reconhecimento de nossa imperfeição por um lado e de outro um ideal desejado são as primeiras condições indispensáveis para que possa existir o trabalho de desbaste. Se o Aprendiz souber relevar, quando algum irmão o aborrecer, estará retirando uma aresta, se ele usar o exercício da tolerância contra as agressões, mais arestas caem. O construir, o participar, o contribuir e o atender são atributos que também retiram arestas.
Contudo a melhor maneira de desbastar a PEDRA BRUTA é a própria comprovação fraterna – chave para abrir portas aos irmãos e assim estaremos dando mostras de que os amamos. Este é o caminho certo, o início do aperfeiçoamento, que certamente será longo, áspero e de sacrifícios, mas vale a pena ser trilhado. É dando que se recebe lembra-nos Francisco de Assis, em uma mensagem de amor.
Assim pedem os aprendizes-maçons, sempre haja alguém que os ajudam a suportar o fardo, a torná-lo leve, colaborando com seu progresso mostrando sempre o caminho do bem e da virtude. É necessário ainda que cada um de nós, sendo PEDRA BRUTA conheça sua natureza, descubra de que material é feito, que resistência possui, se é pedra-ferro, pedra mármore, granito ou outra composição. Esse trabalho deve ser uma contínua rotina em nossas vidas, uma vez que a necessidade de aprimoramento seja ele intelectual; espiritual ou psíquico faz parte da natureza humana para atingir novos paradigmas do verdadeiro progresso, a serviço da própria humanidade que vai adentrando por séculos e séculos
cumprindo seu destino. Pois somos degraus na cadeia da divindade, e cada degrau sustenta um e é sustentado por outro, o ser evolucionado além de limpar e polir seu degrau tem também o dever de contribuir para a limpeza dos outros, para que nada de feio se veja, assim estaremos evoluindo e colaborando para a evolução do todo, pois “o todo é muito maior que a simples soma das partes”.
CONCLUSÃO:
O valor alegórico inspirado nas pedras, desde os primórdios tempos, é refletido para toda a existência, que o homem moderno precisa obter os ensinamentos que elas – as pedras proporcionam, a fim de melhorar sua própria vida, para contribuir na construção de uma sociedade centrada nos bons costumes. Desta forma, faz-se necessário buscar incessantemente o aprimoramento individual e coletivo, quer nos trabalhos das oficinas, nos encontros fraternos, na aplicação da doutrina, no ensinamento geral a que todos abrangem, nas ocupações do mundo profano, que o maçom cumpre integralmente sua finalidade na sociedade humana.
A transformação de PEDRA BRUTA EM PEDRA POLIDA só encontra seu significado real com o trabalho primitivo dos PEDREIROS LIVRES, quando, a própria oficina procura anular as arestas de seus próprios membros quaisquer que sejam as suas posições em Loja, sejam quais forem seus títulos iniciáticos.
Reflitamos meus Irmãos.
E que o G∴ A∴ D∴ U∴ a todos ilumine e guarde.
Bibliografia:
Constituição do Grande Oriente do Brasil
Ritual (REAA) 1º Grau – Aprendiz
Enciclopédia Barsa
"A simbólica Maçônica" – Jules Boucher
"Caderno de Estudos Maçônico" – José Castellani
Manual do Aprendiz-Maçom
Bíblia Sagrada
Enciclopédia da Sociedade de Ciências Antigas
Pesquisa:
Ir∴ Emerson Assunção
M∴ M∴
A∴ R∴ L∴ S∴ Mestre Chico Abílio nº 4246

Proibido falar contra maçonaria nas igrejas


Algum tempo alguns tem questionado porque não se pode mais falar contra a maçonaria nas igrejas, e a resposta é muito simples, a maçonaria já faz parte indivisível da maior parte das grandes denominações religiosas, portanto falar mal seria anti-ético e de mal gosto.

vejam esta imagem acima no qual faz campanha contra a maçonaria nas igrejas, quando na verdade os membros delas desconhecem que mesmo seus pastores fazem parte dela, são este membros desavisados que através das redes sociais promovem estas campanhas e não suas denominações.

É o mesmo que saber que 99% da politica está na maçonaria e contribui para o crescimento do país e querer depreciar, exclusivamente aqueles pastores que já possuem vida politica, eles são mais abertos e convivem lado a lado com maçons.

Foi esta razão quanto ao questionamento de ser negado ao Doutor Pedrosa o direito de de entrar numa denominação e falar mal dos donos da casa, o Renato Pedrosa é médico Anestesiologista, missionário, Pastor

Observem que antigamente a maçonaria estava incluída entre os estudos de seitas e heresias da maior parte das denominações porque não havia muitos representantes no meio delas, mas hoje tudo mudou.
Mas alguns pastores que saíram de muitas denominações  procuram adeptos para uma nova reforma protestante dizendo que a igreja evangélica brasileira se curvou a Baal.

Sabá: um Chamado para Descansar em Cristo

R. C. Sproul
13 de Fevereiro de 2015 - Teologia
A obediência é mesmo um caminho estreito. A desobediência, por outro lado, tem uma vasta gama de opções. Por sermos como os fariseus, nós achamos fácil converter a lei de Deus em diversos pecados de omissão. Somos muito melhores em não fazer o que não devemos fazer do que em fazer o que devemos fazer. Assim, nós reduzimos o sabá a todas aquelas coisas que não nos é permitido fazer. Nós trabalhamos para esmiuçar a definição de “trabalho” de modo a nos certificarmos de não o fazermos no sabá. Ao agir assim, como é de costume, nós erramos o alvo. Se tivéssemos de dividir os Dez Mandamentos não entre os deveres para com Deus e os deveres para com os homens, como muitos fazem, mas, em vez disso, se os classificássemos em proibições e ordenanças positivas, o mandamento do sabá estaria entre as ordenanças positivas. Ele diz menos respeito ao que somos proibidos de fazer e mais ao que somos ordenados a fazer.

Primeiro, acredite ou não, o mandamento do sabá nos ordena a trabalhar. “Seis dias trabalharás” não é um interessante prelúdio planejado para meramente apresentar o contexto do mandamento que está por vir. É um mandamento em si mesmo. Nós devemos estar ocupados com o trabalho que está posto diante de nós. Devemos estar avidamente buscando o reino de Deus. Devemos reconhecer que vivemos no “ainda não” do reino. Nem todos os inimigos foram postos debaixo de seus pés ainda. Nós ainda não exercemos completamente o domínio sobre a criação. O reino de Jesus ainda não é universalmente reconhecido. O Breve Catecismo de Westminster pergunta: “Como exerce Cristo as funções de rei?”, e sua resposta é: “Cristo exerce as funções de rei, sujeitando-nos a si mesmo, governando-nos e protegendo-nos, contendo e subjugando todos os seus e os nossos inimigos”. Enquanto reinamos com ele e debaixo da autoridade dele, este é o trabalho a que somos chamados: buscar o seu reino, tornar manifesto o seu domínio.

Segundo, quando o mandamento do sabá passa a tratar do dia de observância, ele não ordena que evitemos trabalhar – é muito mais profundo: somos ordenados a descansar. Nós pensamos estar guardando o mandamento se corajosamente nos recusamos a fazer todo o trabalho que está acumulado e que tira o nosso sono à noite. Ao invés disso, nós estamos pecando. Descansar não é simplesmente cessar de trabalhar; é também cessar de se preocupar. Isso não é fácil. Com efeito, por assim dizer, descansar, especialmente cessar de se preocupar, é um trabalho árduo. É preciso disciplina e firmeza para se livrar de tudo o que nos deixa preocupados.

Nós não estamos sendo bem-sucedidos ainda que nossas preocupações sejam mais piedosas. Isto é, nós não estamos falhando em guardar o sabá apenas quando nos preocupamos com aquela importante reunião de trabalho na segunda-feira, mas também quando nos preocupamos com a nossa persistente falha em mortificar aquele pecado específico que tanto nos perturba. Preocupação é preocupação e isso não tem lugar na nossa celebração no sabá. O Dia do Senhor é um dia festivo e deve ser tratado como tal.

Nós nos alegramos e deixamos de lado nossas preocupações quando chegamos a compreender que o Dia do Senhor é aquele tempo em que deixamos o “ainda não” do reino e entramos no “já”. Não é certo que o elemento definidor da eternidade é a bênção de se aproximar do Deus vivo? Quando nos banqueteamos na Mesa do Senhor, não está ele declarando a sua bênção sobre nós? Não está ele nos abençoando e guardando, fazendo resplandecer o seu rosto sobre nós, tendo misericórdia de nós? Não está ele levantando o seu rosto sobre nós? Não está ele nos dando paz?

Quando nos preocupamos com coisas mais ordinárias, falhamos em atender ao chamado de Jesus, no Sermão do Monte, para deixarmos de lado nossas preocupações e não sermos como os gentios. Somos chamados a, em vez disso, buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça. Quando nos preocupamos com coisas mais espirituais, especialmente com nossos próprios pecados, perdemos de vista o próprio coração de toda a pregação do Dia do Senhor – nós, os que nos arrependemos, somos perdoados em Cristo. Nós, por sua graça soberana, terminamos a nossa busca – já recebemos a sua justiça.

O sabá, então, é shalom, e shalom é sabá. Nós temos descanso porque temos paz. Temos paz porque temos descanso. Temos essas duas coisas porque Jesus é não apenas o Senhor do sabá e o Príncipe da paz, mas é também o nosso Sabá, a nossa Paz.

Há um modo correto de guardar o sabá em nosso contexto. Há uma resposta certa para a questão que nos divide. No final, contudo, seja qual for a posição que tenhamos acerca do sabá – quer creiamos que essa lei foi revogada na nova aliança, quer creiamos que ela foi modificada na nova aliança, quer mantenhamos o ávido compromisso de nossos pais puritanos –, a questão principal diz respeito ao evangelho: estamos nós descansando na obra consumada de Cristo? Aquele que guarda mais fielmente o sabá é, no fim das contas, aquele que guarda mais alegremente o sabá. O sabá, enfim, não é simplesmente algo a ser observado, mas algo a ser celebrado. E nós celebramos não simplesmente um dia longe do trabalho. Nós celebramos a vitória do nosso Rei. Nós estamos cheios de alegria, pois ele venceu o mundo. E nós reinamos com ele.

Nota:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série "Sabá: O Debate Incansável", na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

1) Sabá: Definindo o Debate
2) O Sabá do Sétimo Dia
3) O Sabá Puritano
4) O Sabá Luterano
4) O Sabá Realizado
5) Sabá: um Chamado para Descansar em Cristo

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5 Erros do Evangelho da Prosperidade

David W. Jones
07 de Abril de 2014 - Igreja e Ministério
Há mais de um século, falando à então mais numerosa congregação em toda a cristandade, Charles Spurgeon disse:

Eu creio que é anticristão e pecaminoso para qualquer cristão viver com a finalidade de acumular riquezas. Você dirá: “Não devemos lutar o quanto pudermos para conseguirmos todo o dinheiro que pudermos?” Você pode fazer isso. De qualquer maneira, não posso duvidar que ao fazê-lo, você possa servir à causa de Deus. Mas o que eu disse é que viver com a finalidade de acumular riquezas é anticristão.[1]

Ao longo dos anos, contudo, a mensagem pregada em algumas das maiores igrejas do mundo mudou — de fato, um novo evangelho está sendo ensinado a muitas congregações hoje. Muitos nomes têm sido atribuídos a tal evangelho: o evangelho do “declare e tome posse”, o evangelho do “fale e receba”, o evangelho da “saúde e riqueza”, o “evangelho da prosperidade” e a “teologia da confissão positiva”.

Não importa qual nome seja usado, a essência desse novo evangelho é a mesma. Colocando de maneira simples, esse “evangelho da prosperidade” egocêntrico ensina que Deus quer que os crentes sejam fisicamente saudáveis, materialmente ricos e pessoalmente felizes. Ouça as palavras de Robert Tilton, um dos mais conhecidos representantes do evangelho da prosperidade nos Estados Unidos: “Eu creio que é a vontade de Deus que todos prosperem, porque eu vejo isso na Palavra, não porque isso funcionou poderosamente para outra pessoa. Eu não olho para homens, mas para Deus que me dá o poder para adquirir riquezas”. [2] Mestres do evangelho da prosperidade encorajam seus seguidores a orar e até mesmo a exigir prosperidade material de Deus.

Cinco erros teológicos do evangelho da prosperidade

Recentemente, Russel Woodbridge e eu escrevemos um livro chamado Health, Wealth, and Happiness (Saúde, Riquezas e Felicidade, em tradução livre) para examinar as alegações dos defensores do evangelho da prosperidade.[3] Embora nosso livro seja demasiadamente amplo para resumi-lo aqui neste artigo, eu gostaria de rever cinco doutrinas que cobrimos em nosso livro — doutrinas sobre as quais os defensores do evangelho da prosperidade erram. Discernindo tais erros a respeito das doutrinas-chave, espero que os leitores vejam claramente os perigos do evangelho da prosperidade. As doutrinas que eu cobrirei são a aliança Abraâmica, a expiação, ofertas, fé e oração.

A aliança Abraâmica é um meio para o direito a bens materiais
O primeiro erro que consideraremos é que o evangelho da prosperidade vê a aliança Abraâmica como um meio para o direito a bens materiais.

A aliança Abraâmica (Gn 12, 15, 17, 22) é uma das bases teológicas do evangelho da prosperidade. É bom que os teólogos da prosperidade reconheçam que muito da Escritura é o registro do cumprimento da aliança Abraâmica, mas é ruim que eles não mantenham uma visão ortodoxa de tal aliança. Eles possuem uma visão incorreta do princípio da aliança; mais significativamente, eles possuem uma visão errônea a respeito de sua aplicação.

Edward Pousson definiu muito bem a visão da prosperidade na aplicação da aliança Abrâmica quando escreveu: “Os cristãos são os filhos espirituais de Abraão e herdeiros das bênçãos da fé [...] Tal herança Abraâmica se dá primariamente em termos de direitos materiais”.[4] Em outras palavras, o evangelho da prosperidade ensina que o propósito primário da aliança Abraâmica era Deus abençoar Abraão materialmente. Visto que agora os crentes são os filhos espirituais de Abraão, eles herdaram tais bênçãos financeiras.

O mestre da prosperidade Kenneth Copeland escreveu: “Visto que a aliança de Deus foi estabelecida e a prosperidade é uma provisão de tal aliança, você precisa perceber que a prosperidade agora pertence a você!”[5]

Para apoiar essa declaração, os mestres da prosperidade apelam para Gálatas 3.14, que se refere à “bênção de Abraão chegando aos gentios por Jesus Cristo”. É interessante, contudo, que em seus apelos em Gálatas 3.14, os mestres da prosperidade ignorem a segunda metade do versículo, que diz: “... a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Nesse versículo, Paulo estava claramente lembrando os gálatas sobre a bênção espiritual da salvação, não a bênção material da riqueza.

A expiação de Jesus se estende ao “pecado” da pobreza material.
Um segundo erro teológico do evangelho da prosperidade é uma visão deficiente da expiação.

O teólogo Ken Sarles escreve que “o evangelho da prosperidade afirma que tanto a cura física quanto a prosperidade financeira foram concedidas através da Expiação”.[6] Esta parece ser uma observação acurada à luz do comentário de Kenneth Copeland de que “o princípio básico da vida cristã é saber que Deus depositou os nossos pecados, doenças, enfermidades, aflições, pesares e pobreza sobre Jesus no Calvário”.[7] Tal equívoco a respeito do escopo da expiação decorre de dois erros que os defensores do evangelho da prosperidade cometem.

Primeiro, muitos que defendem a teologia da prosperidade têm uma concepção errônea da vida de Cristo. Por exemplo, o mestre John Avanzini proclamou: “Jesus tinha uma boa casa, uma casa grande”[8], “Jesus lidava com muito dinheiro”[9], e ele até mesmo “vestia roupas de grife”[10]. É fácil ver como tal visão distorcida da vida de Cristo poderia levar a uma concepção igualmente distorcida da morte de Cristo.

Um segundo erro que leva a uma visão deficiente da expiação é uma interpretação errônea de 2 Coríntios 8.9, que diz: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”.  Embora uma leitura superficial desse versículo possa levar alguém a crer que Paulo estava ensinando sobre um aumento da riqueza material, uma leitura contextualizada revela que Paulo, na verdade, estava ensinando exatamente o princípio oposto. De fato, Paulo estava ensinando aos coríntios que, uma vez que Cristo conquistou tantas coisas por eles, através da expiação, eles deveriam esvaziar-se de suas próprias riquezas a serviço do Salvador. É por isso que, em apenas cinco curtos versículos depois, Paulo insistirá que os coríntios doem suas riquezas para irmãos em necessidade “suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles” (2Co 8.14).

Os cristãos dão ofertas para ganhar compensação material de Deus
Um terceiro erro do evangelho da prosperidade é que os cristãos deveriam dar ofertas para ganhar compensação material de Deus. Uma das mais notáveis características dos teólogos da prosperidade é a sua aparente fixação com o ato de dar. Estudantes do evangelho da prosperidade são incitados a dar generosamente e são confrontados com declarações piedosas como: “A verdadeira prosperidade é a habilidade de usar o poder de Deus para atender às necessidades da humanidade em cada esfera da vida”[11]; e: “Nós fomos chamados para financiar o evangelho para o mundo”[12]. Embora tais declarações pareçam ser dignas de louvor, tal ênfase nas ofertas é construída sobre motivos que são qualquer coisa, menos filantrópicos. A força propulsora por trás desse ensino sobre dar é o que o mestre da prosperidade Robert Tilton se refere como a “Lei da Compensação”. De acordo com essa lei, que é supostamente baseada em Marcos 10.30, [13] os cristãos precisam dar generosamente a outros, porque, quando dão, Deus lhes dará mais em troca. Isso, por sua vez, levaria a um ciclo de prosperidade sempre crescente.

Como Gloria Copeland disse: “Dê $10 e receba $1000; dê $1000 e receba $100.000 [...] resumindo, Marcos 10.30 é um ótimo negócio”[14]. É evidente, portanto, que a doutrina do evangelho da prosperidade de dar é construída sobre motivos deficientes. Enquanto Jesus ensinava aos seus discípulos “dá, sem esperar nada em troca” (Lc 10.35), os teólogos da prosperidade ensinam os seus discípulos a darem, porque terão algo muito maior em troca.

Fé é uma força espiritual autogerada que leva à prosperidade
Um quarto erro da teologia da prosperidade é o seu ensino de que a fé é uma força espiritual autogerada que leva à prosperidade. Enquanto o cristianismo ortodoxo entende a fé como a confiança na pessoa de Jesus Cristo, os mestres da prosperidade abraçam uma doutrina bastante diferente. Em seu livro The Laws of Prosperity (As Leis da Prosperidade, em tradução livre), Kenneth Copeland escreve: “Fé é uma força espiritual, uma energia espiritual, um poder espiritual. É essa força da fé que faz as leis do mundo espiritual funcionarem. [...] Há certas leis governando a prosperidade revelada na Palavra de Deus. A fé faz com que elas funcionem”.[15] Esse é obviamente um entendimento distorcido, talvez até mesmo herético, da fé.

De acordo com a teologia da prosperidade, fé não é um ato da vontade de Deus, concedido por Deus e centralizado em Deus. Mas é uma força espiritual humanamente forjada, dirigida a Deus. De fato, qualquer teologia que vê a fé somente como um meio para o ganho material, em vez da justificação diante de Deus, deve ser julgada deficiente e inadequada.

A oração é uma ferramenta para forçar Deus a conceder prosperidade.
Finalmente, o evangelho da prosperidade trata a oração como uma ferramenta para forçar Deus a conceder prosperidade. Os pregadores do evangelho da prosperidade frequentemente observam que nós não temos, porque não pedimos (Tg 4.2). Os defensores do evangelho da prosperidade encorajam os crentes a orar por sucesso pessoal em todas as áreas da vida. Creflo Dollar escreve: “Quando oramos, crendo que já recebemos aquilo pelo qual oramos, Deus não tem escolha a não ser fazer as nossas orações se tornarem realidade [...] Essa é uma chave para conseguir resultados como cristão”[16].

Certamente as orações por bênçãos pessoais não são inerentemente erradas, mas a ênfase demasiada do evangelho da prosperidade sobre o homem transforma a oração em uma ferramenta que os crentes podem usar para forçar Deus a conceder seus desejos.

Dentro da teologia da prosperidade, o homem — não Deus — se torna o foco da oração. Curiosamente, os pregadores da prosperidade frequentemente ignoram a segunda metade do ensino de Tiago sobre a oração que diz: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3). Deus não responde a solicitações egoístas que não honram o seu nome.

Certamente todas as nossas petições devem ser levadas ao conhecimento de Deus (Fp 4.6), mas o evangelho da prosperidade se concentra tanto nos desejos dos homens, que pode levar as pessoas a fazerem orações egoístas, superficiais e frívolas, que não trazem a glória para Deus. Além disso, quando combinada com a doutrina de fé do evangelho da prosperidade, tal ensino pode levar as pessoas a tentarem manipular Deus para conseguirem o que querem — uma tarefa vã. Isso está muito longe da oração que deseja que a vontade de Deus seja feita.

Um falso evangelho

À luz da Escritura, o evangelho da prosperidade é fundamentalmente defeituoso. Na base, o evangelho da prosperidade é, na verdade, um falso evangelho devido à sua visão distorcida sobre o relacionamento entre Deus e o homem. Em outras palavras, se o evangelho da prosperidade é verdadeiro, a graça é obsoleta, Deus é irrelevante e o homem é o centro de todas as coisas. Quer eles estejam falando sobre a aliança Abraâmica, a expiação, as ofertas, a fé ou a oração, os mestres da prosperidade transformam o relacionamento entre Deus e o homem em uma transação quid pro quo.[17] Como James R. Goff observou, Deus é “reduzido a uma espécie de ‘serviçal cósmico’, atendendo às necessidades e desejos da sua criação”.[18] Essa é uma visão completamente inadequada e antibíblica do relacionamento entre Deus e o homem.



David W. Jones é Professor Associado de Ética Cristã no Southeastern Baptist Theological Seminary.

[1] Tom Carter, ed., 2,200 Quotations from the Writings of Charles H. Spurgeon (Grand Rapids: Baker Book House, 1988), 216.

[2] Robert Tilton, God’s Word about Prosperity (Dallas, TX: Word of Faith Publications, 1983), 6.

[3] David W. Jones and Russell S. Woodbridge, Health, Wealth, and Happiness: Has the Prosperity Gospel Overshadowed the Gospel of Christ? (Grand Rapids: Kregel, 2010).

[4] Edward Pousson, Spreading the Flame (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 158.

[5] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1974), 51.

[6] Ken L. Sarles, “A Theological Evaluation of the Prosperity Gospel,” Bibliotheca Sacra 143 (Oct.-Dec. 1986): 339.

[7] Kenneth Copeland, The Troublemaker (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1996), 6.

[8] John Avanzini, “Believer’s Voice of Victory,” programa na TBN, 20 de janeiro de 1991.  Citado em Hank Hanegraaff, Christianity in Crisis (Eugene, OR: Harvest House, 1993), 381.

[9] Idem, “Praise the Lord,” programa na TBN, 15 de setembro de 1988. Citado em Hanegraaff, 381.

[10] Avanzini, “Believer’s Voice of Victory.”

[11] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity, 26.

[12] Gloria Copeland, God’s Will is Prosperity (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1973), 45.

[13] Outros versículos sobre os quais baseiam a “Lei da Compensação” incluem Ec 11.1, 2Co 9.6 e Gl 6.7.

[14] Gloria Copeland, God’s Will, 54.

[15] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity, 19.

[16] Creflo Dollar, “Prayer: Your Path to Success,” 2 de março de 2009, http://www.creflodollarministries.org/BibleStudy/Articles.aspx?id=329 (acessado em 30 de outubro de 2013).

 [17] A expressão tem origem latina e significa “tomar uma coisa por outra”. No uso do português tem o significado de confusão ou engano.

[18] James R. Goff, Jr., “The Faith That Claims,” Christianity Today, vol. 34, fevereiro de 1990, 21.

Tradução: Alan Cristie

Romanos 11 e o futuro de Israel

Então, o que isso significa para o Israel nacional, os ramos que foram arrancados do verdadeiro Israel por causa da incredulidade? Será que Deus terminou com esse povo enquanto uma entidade pactual? A fim de responder essa questão, devemos nos voltar ao argumento de Paulo em Romanos 9-11.

Em Romanos 1-8, Paulo negou que os judeus tivessem sua salvação garantida com base em seus distintos privilégios enquanto judeus. A fé era a chave, não a etnia ou qualquer tipo de obras. Paulo argumentou que todos os que creem em Jesus são filhos de Abraão. Ele também argumentou que nenhuma das promessas de Deus falharia. Tudo isso levantaria sérias questões na mente dos seus leitores. O que dizer de Israel? O que fazer com as promessas que Deus lhe fez, à luz de sua rejeição do Messias? Será que a incredulidade de Israel anulou as promessas de Deus? Será que Israel foi deserdado? Será que o plano de Deus revelado ao longo do Antigo Testamento foi arruinado ou descartado? Paulo responde essas questões em Romanos 9-11.

Paulo começa Romanos 9 com um lamento por Israel – seus “compatriotas, segundo a carne” (v. 3). Ele então relembra todos os privilégios que ainda pertencem a Israel – incluindo a adoção, as alianças e as promessas (vv. 4-5). Nos versículos 6-29, Paulo defende a proposição que estabelece no versículo 6a, isto é, que a promessa de Deus não falhou. Nos versículos 6.13, ele explica que a eleição corporativa de Israel nunca significou a salvação de cada descendente biológico de Abraão: “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (v. 6b). Nos versículos 14-23, Paulo expande isso, explicando que a salvação nunca foi um direito de nascimento baseado na descendência biológica. Ela sempre foi um dom baseado na eleição soberana de Deus.

Em Romanos 9.30-10.21, Paulo descreve a virada ocorrida na história redentiva, a saber, que, enquanto Israel tropeçou sobre Jesus, os gentios estão agora afluindo para o reino. É importante observar que, em Romanos 10.1, Paulo escreve: “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos”. Ele está falando sobre Israel. O próprio fato de Paulo ser capaz de continuar a orar pela salvação do Israel incrédulo indica que ele crê na possibilidade de salvação para os israelitas.

O que Paulo diz, então, levanta a grande pergunta, que ele agora apresenta: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum!” (11.1a). Esse é o tema básico do capítulo 11. Nos versículos 1-10, Paulo demonstra que Deus não rejeitou Israel ao distinguir entre o “remanescente” e os “endurecidos”. Desenvolvendo o que já havia dito em 9.6-13 e 9.27, Paulo indica que, assim como nos dias de Elias, também agora há um remanescente que crê (11.2-5). Em contraste com o remanescente, escolhido pela graça (v. 5), estão “os demais”, a nação de Israel como um todo, a qual foi “endurecida” (v. 7). Deus entorpeceu os sentidos espirituais de Israel (v. 8) e eles tropeçaram (vv. 9-10).

Paulo então pergunta: “Porventura, tropeçaram para que caíssem?” (11.11a). Qual a sua resposta? “De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes” (11.11b). Qual é o significado presente do tropeço de Israel? Paulo explica que isso aconteceu como um meio para trazer uma multidão de gentios para o reino. O endurecimento de Israel está servindo ao propósito de Deus. A transgressão deles serviu como ocasião para a outorga da salvação aos gentios. Paulo afirma: “Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seuabatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!” (v. 12, ênfase minha).

Nos versículos 11-12, Paulo menciona três eventos: a transgressão (ou “fracasso”) de Israel, a salvação dos gentios e a plena inclusão de Israel. O primeiro deles conduz ao segundo e o segundo conduz ao terceiro. A transgressão de Israel, em outras palavras, iniciou um processo que, em última instância, conduzirá de volta à restauração de Israel. Esse é o primeiro de cinco lugares nessa curta passagem no qual Paulo explica o propósito e o futuro de Israel em termos de três estágios. Douglas Moo apresenta um útil sumário:

vv. 11-12: “transgressão de Israel” – “salvação para os gentios” – “sua plenitude”
v. 15: “sua rejeição” – “reconciliação ao mundo” – “seu restabelecimento”
vv. 17-23: “ramos naturais quebrados” – “ramos de oliveira brava enxertados” – “ramos naturais” enxertados de volta
vv. 25-26: “endurecimento a Israel” – “plenitude dos gentios” – “todo o Israel será salvo”
vv. 30-31: desobediência de Israel – misericórdia aos gentios – misericórdia a Israel
A repetida ocorrência desse processo de “três estágios” reforça a ideia de Paulo aguarda uma futura restauração de Israel. A condição presente de Israel é descrita como de “fracasso” e “rejeição”. Paulo caracteriza a futura condição de Israel em termos de “plenitude” e “restabelecimento”. Israel não está simultaneamente na condição de “fracasso” e “plenitude” nem de “rejeição” e “restabelecimento”. A “plenitude” se seguirá ao “fracasso”. O “restabelecimento” se seguirá à “rejeição”.

Paulo antecipa um problema em potencial nos versículos 13-24. Os crentes gentios, por haverem aprendido que eles eram agora o povo de Deus, poderiam facilmente se confundir e achar que isso era motivo para se vangloriarem contra os judeus. Nesses versículos, Paulo os adverte contra tal arrogância. Em 11.16-24, Paulo explica o desenvolvimento da história redentiva e o lugar de Israel nele por meio da analogia da oliveira que discutimos acima. Aqui, novamente, Paulo aponta para três estágios na história redentiva: “ramos naturais quebrados” – “ramos da oliveira brava enxertados” – “ramos naturais” enxertados de volta.

O ensino de Paulo nos versículos 25-27 tem estado no centro do debate a respeito da correta interpretação do capítulo 11. Paulo escreve no versículo 25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios”. Aqui Paulo ainda está falando diretamente aos gentios (ver v. 13). Ele deseja que eles compreendam um “mistério”. Nesse contexto, o mistério envolve a inversão das expectativas judaicas quanto à sequência dos eventos do final dos tempos. O “mistério” é que a restauração de Israel se segue à salvação dos gentios.

No versículo 26, Paulo continua a sentença iniciada no versículo 25: “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades”. O principal debate aqui diz respeito ao significado de “todo o Israel”. Charles Cranfield lista as quatro principais visões que têm sido propostas: (1) todos os eleitos, tanto judeus como gentios; (2) todos os eleitos da nação de Israel; (3) toda a nação de Israel, incluindo cada membro em particular; e (4) a nação de Israel como um todo, mas não necessariamente incluindo cada membro em particular. Uma vez que Paulo repetidamente rejeita a salvação de cada indivíduo israelita, nós podemos desconsiderar a opção (3).

João Calvino entendia “todo o Israel” no versículo 26 com o significado de todos os eleitos, tanto judeus como gentios. Paulo de fato usa essa linguagem em outros lugares de seus escritos. O problema em entender “todo o Israel” em 11.26 nesse sentido é o contexto. Ao longo dos versículos 11-25, Paulo consistentemente distinguiu judeus e gentios. Nós também precisamos nos lembrar de que a preocupação de Paulo nesses capítulos é com os seus compatriotas segundo a carne (9.1-5). A sua oração nesse contexto é pela salvação do Israel descrente (10.1). Em Romanos 11.26, Paulo está revelando que a oração de 10.1 será respondida uma vez que a plenitude dos gentios haja entrado.

Outros teólogos reformados, tais como O. Palmer Robertson e Herman Ridderbos, sustentaram que “todo o Israel” se refere a todos os eleitos da nação de Israel no decorrer da presente era. Assim como a visão que compreende “todo o Israel” como a igreja, há verdade nessa interpretação. Os judeus que estão sendo salvos na presente era não são, em nada, diferentes dos judeus que serão salvos no futuro. O problema dessa interpretação, como da anterior, é que ela conflita com o contexto imediato. Como John Murray observa, “apesar de ser verdade que todos os eleitos de Israel, o verdadeiro Israel, serão salvos, esta é uma verdade tão necessária e óbvia, que asseverar tal coisa aqui não teria qualquer relevância particular ao interesse central do apóstolo nesta seção da carta”.[1] Paulo não está angustiado com a salvação do remanescente. Eles já estão salvos. Ele está angustiado com o Israel descrente. É pela salvação desse “Israel” que ele ora (10.1) e é esse Israel o qual ele diz que será salvo no versículo 26.

A interpretação de “todo o Israel” que melhor encaixa no contexto imediato é aquela que compreende “todo o Israel” como a nação de Israel como um todo, mas sem necessariamente incluir cada membro individual do Israel étnico. Paulo consistentemente contrasta os gentios e Israel ao longo desse capítulo e continua a fazê-lo na primeira metade da sentença que estamos examinando (v. 25). Não há razão contextual para assumirmos que Paulo muda o sentido do termo Israel, aqui, no meio da frase. O “Israel” que será salvo (v. 26) é o “Israel” que foi em parte endurecido (v. 25). Esse Israel parcialmente endurecido é distinto dos gentios (v. 25) e é, também, distinto do atual remanescente de crentes judeus, os quais não foram endurecidos (v. 7).

Conclusão

A relação entre Israel e a Igreja no Novo Testamento não é sempre fácil de discernir, mas pode ser compreendida se nos lembrarmos das diferenças entre o Israel nacional e o verdadeiro Israel tanto no Antigo como no Novo Testamentos, bem como se tivermos em mente o que Paulo ensina em Romanos 11. O atual endurecimento de Israel tem um propósito no plano de Deus, mas esse endurecimento não é permanente. A futura restauração da nação de Israel envolverá o seu reenxertar na oliveira verdadeira, o povo único de Deus. A restauração de Israel significará que eles se tornarão parte do “verdadeiro Israel” pela fé em Jesus Cristo, o Messias.

Notas:

[1] N.T.: John Murray, Romanos: comentário bíblico Fiel (São José dos Campos: Fiel, 2003), p. 460.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel