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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

TODAS AS CRIATURAS DE DEUS TEM TRABALHO A REALIZAR



( Conto do sudeste asiático)
Era uma vez dois primos que foram criados juntos. Aprenderam a rastejar e a engatinhar juntos, mais tarde a correr, nadar, jogar bola e tudo o mais que os meninos fazem juntos. Eram amigos leais e devotados.

Porém, com o tempo, foram se distanciando, como acontece até com os bons amigos, ao saírem pela vida. Um deles dedicou-se aos livros, descobriu um certo prazer em aprender e estudou muito, acabando por triunfar nos exames. O outro primo resolveu que os livros não eram lá boa companhia. Faltou muito às aulas, para continuar a nadar e jogar bola; ignorou os deveres e acabou fracassando nos exames.

Como acontece neste mundo, a sorte sorriu ao primeiro, que se tornou conselheiro do próprio Rei. O segundo primo acabou arranjando serviço de remador do navio real.

Um dia, o rei e todos os conselheiros reais embarcaram para uma viagem rio acima. Sentados sob um dossel, na proa do barco, onde a brisa era mais agradável, discutiam negócios de Estado enquanto o barco seguia.

O remador, vendo o primo bem à vontade com a realeza, ficou muito abalado.

_ Olhe só aquele preguiçoso, espichado na sombra, enquanto eu fico aqui moendo os ossos ao sol _ disse para si mesmo, continuando a remar. _ Por que ele tem direito de se sentar lá, e eu não? Afinal nós dois não somos criaturas de Deus  ?

Quanto mais pensava, mais furioso ficava.

_ Olhe só esses palermas inúteis. _ começou a resmungar para um companheiro remador. _ Intitulam-se conselheiros, mas só ficam à toa. Jogando conversa fora. Por que é que nós temos que suar tanto para puxar as carcaças deles contra a corrente?

Eles deviam estar aqui, remando também. Não somos todas criaturas de Deus?

Aquela noite ancoraram para pernoitar. Todos comeram e dormiram logo.

O remador acordou no meio da noite, com uma mão muito firme sacudindo-lhe os ombros. Era o próprio Rei.

_ Há um barulho esquisito vindo daquela direção. _ Disse, apontado para terra._ Não consigo dormir, imaginando o que seja. Por favor, vá e descubra.

O remador pulou fora do barco e subiu correndo para o alto de um morro. Voltou poucos minutos depois.

_ Não é nada Majestade._ Disse. _ Uma gata acabou de dar à luz uma ninhada de gatinhos barulhentos.

_ Ah sim. Disse o rei. Que tipo de gatinhos?

O remador não tinha olhado para os filhotes. Correu de novo morro acima e voltou.

_ Siameses _ disse.

_ E quantos são os gatinhos? _ Perguntou o Rei.

Isso o remador também não tinha reparado. Voltou lá.

_ Seis gatinhos._ reportou.

_ Quantos machos e quantas fêmeas? _ Perguntou o Rei.

O remador correu para lá mais uma vez.

Três machos e três fêmeas. _ gemeu, já quase sem fôlego.

_ Está  bem _ Disse o Rei. _ Venha comigo.

Foram pé ante pé até a proa do barco e, o rei acordou o primo do remador.

_ Há um barulho esquisito em cima daquele morro _ disse a ele. _ Vá lá e descubra o que é.

O conselheiro do Rei desapareceu na escuridão e voltou pouco depois.

_ É uma ninhada de gatinhos, recém-nascidos, Majestade_ disse.

_ Que tipo de gatinhos? _ Perguntou o rei.

_ Siameses_ respondeu o conselheiro.

_ Quantos?

_ seis.

_ Quantos machos e quantas fêmeas ?

_ Três machos e três fêmeas. A mãe deu à luz dentro de um barril revirado, logo depois de chegarmos. Os gatos pertencem ao Prefeito do vilarejo. Ele espera não ter incomodado Vossa Majestade e, convida-o a escolher um deles, caso a corte precise de algum animalzinho real de estimação.

O rei olhou para o remador e disse-lhe:

_ Eu ouvi seus resmungos, hoje cedo _ disse ele. _ Sim todos somos criaturas de Deus.  Mas todas as criaturas de Deus têm o seu trabalho a executar.

Precisei mandá-lo quatro vezes à praia, para obter as respostas. Meu Conselheiro foi uma vez só. È por isso que ele é meu conselheiro e você fica com os remos do barco.

Texto extraído de: O livro das virtudes II, In pelo mundo afora, pág.177 à 179.