No século II de nossa era, os cristãos só comemoraram a
Páscoa de Ressurreição e seu mistério, já que consideravam irrelevante o
momento do nascimento de Jesus e, ademais, desconheciam absolutamente quando
pode ter acontecido.
Durante o século seguinte, ao começar a aflorar o desejo
de celebrar o natalício de Jesus de uma forma clara e diferenciada, alguns
teólogos, baseando se nos textos dos Evangelhos, propuseram datar em datas tão
distintas como o 6 e 10 de janeiro, o 25 de março, o 15 e 20 de abril, o 20 de
maio y algumas outras. O sábio Clemente de Alexandria (150-215) no quis ficar à
margem da polêmica e postulo o dia 25 de maio. O papa Fabian (236-250) decidiu
cortar tanta especulação e qualificou de sacrílegos a quem intentaram
determinar a data do nascimento do nazareno.
A pesar da disparidade de datas apontadas, todos
coincidiram em pensar que o solstício de inverno era a data menos provável si
se atendia ao dito por Lucas em seu evangelho: «Havia na região uns pastores
que prenotavam ao raso, e de noite se tornavam velando sobre o rebanho. “Se
apresento um anjo do Senhor, e a gloria do Senhor os envolvia com sua luz…» (Lc
2,8-14)
Si os pastores dormiam ao raso cuidando de seus rebanhos,
para que o relato de Lucas fosse certo e o coerente devia referir se a uma
noite de primavera – e as datas posteriores ao dia 21 de março, equinócio
primaveral e inicio da esta estação -, já que ao final de dezembro, na zona de
Belém, imaginando o excessivo frio e as, todavia abundantes chuvas invernais
impediam qualquer possibilidade de pernoitar ao raso com o gado.
Forçando a cena relatada por Lucas até o limite da
sutileza, outras Igrejas cristãs aléias à católica -como a Igreja armênia-
fizeram a comemoração do Natal no dia 6 de janeiro já que, segundo suas
deduções, embora não é possível situar o relato de Lucas na estação mais fria e
chuvosa do ano nas terras de Judea, si pode ser crível situando o nascimento de
Jesus um pouco mais tarde, em janeiro e no Oriente Médio, um tempo e um lugar
onde é muito provável a existência de céus noturnos claros e sim borrascas,
embora ainda faça frio, isso sim. Com o mesmo argumento, em outras Igrejas
orientais, egípcias, gregas e etíopes propuseram fixar o natalício no dia 8 de
janeiro. Eutiquio, patriarca de Alexandria, no século X ainda defendia esta
data como a única verdadeira.
Se baseando também em Lucas, a Igreja oriental empregou
outro argumento ainda mais peculiar para defender a data de 6 de janeiro.
Pegando a afirmação de Lucas quando escreveu que «Jesus, ao começar, tinha uns
trinta anos» (Lc 3,23), deduziram, de alguma maneira sem duvida milagrosa, que
Jesus morreu quando tinha «exatamente» trinta anos, contados estes desde o dia
de sua concepção, e dado que a data da crucifixão a haviam fixado o 6 de abril
(¡¿?!), só tiveram que acrescentar os nove meses exatos de gestação para chegar
até o tão celebrado 6 de janeiro.
Deixando à margem a via para calcular tão precisado dia,
o certo é que a data do 6 u 8 de janeiro -a primeira que a cristandade
celebrou- tinha muito sentido já que, na Alexandria egípcia (berço de aspetos
fundamentais da doutrina cristã), se festejava com toda pompa o festival de
Core «a Donzela» -identificada com a deusa Isis – e o nascimento de seu novo
Aion, que era uma personificação sincrética de Osíris.
São Epifanio, se referindo ao festival de Core, escreveu
em Penarion 51: «a véspera daquele dia era costume passar a noite cantando e
atendendo as imagens dos deuses. Ao amanhecer se descendia a uma cripta e se
sacava uma imagem de madeira, que tinha o signo de uma cruz e uma estrela de
ouro marcada nas mãos, joelhos e cabeça. “Levava-se em procissão, e logo se
devolvia à cripta; se disse que isso se fazia porque a Donzela havia alumbrado
ao Aion.»
Entrado já o século IV, quando já se havia concluído o
substancial do processo de traspasse de mitos desde os deuses solares jovens
pré-cristãos para a figura de Jesus – Cristo, se decidiu fixar uma data
concreta -e acorde a sua nova concepção mítica- para o natalício de Jesus. Dado
que ao judio Jesus histórico se lhe havia adjudicado toda a carga lendária que
caracterizava o seu máximo competidor de esses dias, o deus Mitra, o lógico foi
lhe fazer nascer ó mesmo dia em que se celebrava a chegada de esse jovem deus.
A mais, cabe recordar que a figura de Jesus não foi
oficialmente declarada como consubstancial com Deus até o ano 325, quando o
imperador Constantino convocou o concilio de Nice e ordenou a todos os bispos
assistentes que acatassem o então muito discutido e discutível dogma de que o
Pai e o filho compartiam a mesma substancia divina
De esta forma, entre os anos 354 e 360, durante o
pontificado de Liberio (352-366), se tomou por data imutável a da noite do dia
24 ao 25 de dezembro, dia em que os romanos celebravam o Natalis Solis Invicti,
o nascimento do Sol Invencível -um culto muito popular e ao que os cristãos no
haviam podido vencer o proscrever até então- e, claro está, a mesma data na que
todos os povos contemporâneos festejavam a chegada do solstício de inverno.
Segundo alguns autores, a eleição do dia 25 de dezembro
-feito que situem no ano 345, baixo o papa Julio I- teve uma influencia
decisiva, Juan Crisóstomo, (do que sabemos que defendeu esta data, frente ao do
dia 6 de janeiro, em, ao menos, escritos do ano 375) e Gregório Nacianceno -um
de os três padres capadocios que elaboraram a doutrina trinitária clássica a
finais del século IV -, porem o mais plausível é que ambos personagens no
intervieram na datação do natalício embora si atuassem como ferventes
defensores do 25 de dezembro a posterior.
Em qualquer caso, São Agustín (354-430) si, devia ter
muito claro a verdadeira origem do Natal católico, sobreposto ao Natalis Solis
Invicti, quando exortou aos crentes a que esse dia no o dedicassem «ao Sol, si
não ao Criador do Sol».
Com a instauração do Natal também se recuperou em
ocidente a celebração dos aniversários, embora as paróquias européias no
começassem a registrar as datas de nascimento de seus paroquianos até o século
XII.
A pesar de haver se fixado já como imutável a data do dia
25 de dezembro – o por essa mesma razão-, as especulações em torno ao natalício
de Jesus prosseguiram durante muitos séculos depois. O papa Juan I (523-526)
decidiu averiguar a verdade, lhe encargo uma investigação ao monge Dionysius
Exiguus (Dionísio o Pequeno) que, trás um curioso processo de razoamento
concluiu que o ano da Encarnação havia sido o ano 754 da fundação de Roma, e
que a Encarnação mesma havia tido lugar o dia 25 de março e o nascimento o dia
25 de dezembro, isso
é depois de uma gestação matematicamente exata de nove
meses.
A peculiar datação de Dionísio o Pequeno também deixo em
herança outra data famosa, a de os 33 anos de Jesus no momento de ser
crucificado, porem hoje já está bem demonstrado que os cálculos do monge romano
foram errados até no mais evidente e que Jesus tinha entre 41 e 45 anos quando
foi executado.
No século XVI, um erudito como José Scaligero ainda se
ocupou do assunto e afirmou que Jesus havia nascido o final de setembro o princípios
de outubro. Mais prudente, o grande sábio e teólogo Bynaeus (1654-1698), depois
de analisar todo o escrito ao respeito, concluiu que «posto que a Escritura
cale sobre isto cale também nos». A data do dia 25 de dezembro, fixada ao final
do século IV, já era inamovível para a orbe católico (ainda não fosse acertada
pelas Igrejas cristãs orientais que seguem celebrando o natalício de Jesus no
dia 6 de janeiro).
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